segunda-feira, setembro 07, 2009

We Supastylin'!


_ Essas pessoas são sozinhas, na verdade. Elas se unem em grupos e logo um briga com outro e se separam. Aí outros são formados, e elas nunca estão realmente imunes a essa solidão.
_ Sei lá. Não existe mais franqueza nelas próprias.
_ Já to muito velha pra isso.

Ainda não era festa e a pista estava vazia. Achava bonito ver aquilo, enquanto a Dani Hyde e eu conversávamos sobre amizades em comum e vida noturna. A vida vestida de preto, com um copo de Martini na mão, lambendo os dedos, tentando as nossas fraquezas, uma cara de Audrey Hepburn. Perdi-me nessa idealização por alguns segundos. Foram três cervejas enquanto o Rapha ajustava o som. Descemos logo em seguida.

Meia noite. As paredes já transpiravam suor alheio, cheiro de cigarro. Estávamos escorados no balcão do bar esperando um ‘movimento’ que não vinha, enquanto ele tragava nervoso o cigarro entre eventuais goles de cerveja. “Tudo por causa da falcatrua que esse fdp fez” - praguejava. Eu não estava dando muita bola. Olhava pras luzes de bolinhas azuis, a uns 5 metros sobre nós, ansiosa, esperando que algo bom tocasse pra espantar aquele desanimo, esperando a noite me tentar.
Falávamos de assuntos neutros e menos arriscados. Eu revezava olhares entre um e outro aleatório sobre a pista estreita de concreto. Minha amiga improvisada cantava do meu lado e eu junto, encenando todas as letras no melhor estilo “Capella”. Queria me divertir. Estava cansada daquela superficialidade das casas noturnas de hoje, dessa necessidade exacerbada de auto-afirmação. Suspirava, apesar de achar um tanto inútil me preocupar com essas coisas, mas era claro. Ainda é: não existe mais a cultura da música... existe a cultura da imagem, da ostentação. O status de um nome. Festa boa hoje em dia é festa cheia! Olha minhas fotos, meu pega, como eu sou descolada e alternativa (como toda alma aqui dentro).

Saudades da música eletrônica e das raves de chácara, onde o mundo dança com a gente e a gente dança com o mundo. De certa forma é bom saber que o Rapha se manteve... e que ainda não fazemos questão de tocar “pop alternativo” pra concorrer com qualquer paspalho manipulador com síndrome de perseguição... babaquice. Não é à procura de status e sim entretenimento baseado em boa música... porra! Não é o lugar!

Mas aquela noite não me parecia muito diferente de outros lugares: pessoas no Laika, não na IndepenDance. Suspiro longo. Fechei a cara sem querer contaminar ninguém. Estávamos agora entre 4 depois que o resto se debandou. Quis dormir quando ele assumiu a CDJ, um sofá sem encosto ao lado dele. Senti-me sozinha com o DJ. Eu encolhia, cuidando pra que o vestido não levantasse e evitava prestar atenção nas músicas, que aos poucos começaram a provocar os ouvidos... “Minhas músicas”, numa intenção pedante dele tentar me reanimar. Só queria esquecer a noite. Esquecer do prejuízo que ele possivelmente teria. Mas ele não estava se importando com isso. Provocou-me, passou dos limites... e eu comecei a ouvir: aquele sotaque carregado abrindo o hit no melhor estilo tecktonik. Pisquei os olhos até eles se reacostumarem com a luz. Meu corpo não obedeceu e eu desci correndo pra pista. Dei um beijo nele e desci. Eu e mais uns sete que resistiam fortes: o pessoal pilhado de final de festa. Dançando todos juntos, como se nos conhecêssemos há tempos. Rindo, pulando, jogando mãozinhas e chutando pezinhos, ocupando todo o espaço possível... donos da noite... donos da casa. E ninguém sabia. Ainda fiz uma coisa que nunca tinha conseguido: sincronizar coreografia improvisada com outra pessoa, repassar os passos para o seguinte, e o seguinte e todos estávamos eufóricos dentro do mesmo ritmo. Não nos sentíamos sozinhos. Que bobagem. O DJ não perdoava nossos pés. Sorria pra mim... eu dançava... só sabia isso.

Over and over and over, as músicas vinham, na medida! “Queria te manter dançando” – ele dizia, até sobrar eu e dois babys, entregues ao sono, na pista. Mais uma vez, sem querer saber de nada, nem do guardinha ou do barman que fitavam o único ponto em movimento dentro daquela casa. Haha. Eu louca, dançava, acompanhava, pulava, realizada. As luzes se acenderam. O Eder acordou e as duas últimas guerreiras que voltaram do banheiro fizeram o pedido final... e mais um e mais um. Até chegar o rei, claro! Beat it! You motherfucking bunch of queers. Amei! Até meu dj parar de tocar e a casa fechar e a fome nos guiar até o Speed e o sono à cama.

Agora já é tarde. Estou atrasada, cheia de coisas pra fazer e a pior parte... é que eu não consigo me importar com nada disso. Foi tão ótimo que até agora, se não cuidar, me pego dançando sozinha por ai: “Enta in de dance, plug it in an we begin, crowd up in de centa, dey watch be-di-bi-dim.”

‘/o/'

(Initial countdown. 10:30 p.m.)

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