terça-feira, junho 01, 2010

It's natural I guess.


Que fique bem claro: o término de um 'grau' de relacionamento entre duas pessoas, não implica, necessáriamente, na abolição de toda e qualquer outra forma de interação e convívio entre os dois estigmatizados "ex". E isso, a princípio, pode parecer conseqüência de uma decisão precipitada, mas nem sempre o compromisso é a única coisa que "prende" duas pessoas e, da mesma forma, as liberta totalmente uma da outra, quando ele sessa (a não ser que o relacionamento tenha sido muito superficial e ninguém tenha se dado conta). A vida a dois, assumida ou não, tem tramas muito mais complexas que as une, que vão além da atração sexual e da íntimidade física e verbal. Se ela durar tempo o suficiente, é capaz de desenvolver laços os quais são quase impossíveis de se desprender, mesmo depois que o amor, propriamente dito, acaba. Não são os vestidos que ele deu, os bilhetes que ela escreveu e ele guarda ainda hoje, as viagens, as fotografias, as festas de família - que agora são pela metade - que dificultam a total separação. O que torna esse adeus definitivo complicado, é todo o espectro de sensações assimilado com o passar do tempo, e que irreversivelmente passa a emaranhar-se com as nossas lembranças anteriores. Nossa maneira de pensar e agir, releva a existência e todas as peculiaridades de outra pessoa e, como eu já comentei algumas vezes aqui no blog, passamos a ser um pouco dela e vice-versa. Os olhares subentendidos, o conhecimento e os gostos adquiridos, as situações que a evocam, a experiência adquirida com a cúmplicidade: essas coisas, o cérebro não deleta frente um coração partido e, mesmo estando ciente do fim do sentimento maior dentro de si, por algum motivo, nem sempre conseguimos nos desfazer da pessoa, porque é tão natural conviver com ela, chama-la pra ir comprar detergente e miojo no mercado perto de casa, ver um filme, falar sobre a faculdade e o novo estágio, até dormir peladinho com ela é algo puro e prazeiroso. E nada mais prudente que assumir esta condição, sem pudores e receios, mesmo no trágico "pós fim". Talvez o orgulho se anteponha em algumas situações - dependendo da causa do fim, e nem sempre seja possível manter um modus vivendi, mas quando o carinho ainda é maior que o orgulho, o mundo continua girando e o cérebro continua relevando a existência daquela pessoa, insistentemente.
Não é uma constatação geral - nem de longe. Mas posso dizer que é claramente o meu caso. Ok, infelizmente não nasci pra dar uma de Martha Medeiros, mas, apesar da minha abordagem um tanto 'bruta', o que foi dito até agora, afirma, com todas as letras, de que 'amor' permanece 'amor', mesmo depois que termina.

E aí eu digo que 'sim', por mais absurdamente difícil que seja engolir a seco as subseqüêntes bolas-fora: eu amo ele, sem "mas" explicativos. Apenas o amo, e ele que entenda isso como quiser. Então sábado, quando saímos com os pilinhas contados para festejar os trinta anos deste rapaz, chega um amigo que tira - quase sem querer - uma instantânea dos dois desprevenidos. Hoje quando me deparei com a foto, que guardei dentro da carteira, não pude conter o sorriso: "é aí que ela vai ficar sempre."

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