domingo, junho 27, 2010

vácuo cardiaco

Hoje meu quarto está fechado, minhas janelas lacradas, o celular desligado. Não quero ver o dia, nem ser testemunha da felicidade alheia. Não quero pensar na fuga patética das emoções que causei, nem da culpa que eu deveria sentir. Não quero bombear meu sangue para dentro das palavras, nem despertar pena de ninguém. Porque hoje meu corpo está inerte, meus olhos esbranquiçados, o coração duro. Batendo por bater.
Meia noite e meia - uma semana depois - mando uma mensagem. Ele responde, eu respondo ele responde e em menos de dez minutos eles estão aqui em frente. Saio correndo de meias no chão molhado, sem fazer barulho, depois de deixar um bilhete mal escrito na porta. Ele dirige e eu evito qualquer assunto "comprometedor". Somos amigos agora, não é - conversamos como tal., sem sexo nem mãozinha na cintura. Depois de alguns goles, minha amiga me chama pro banheiro, e, em meio a arritmia verbal, descobrimos que já não há mais o que ser dito, nem sobre ele, nem sobre nada... e eu estou crente de que esse nada se instaurou meio sem nome, consumindo aos poucos, até a vida esquecer de nós e nós 'nos' esquecermos. Mas mesmo assim... mesmo assim eu senti dor. Senti tontura da cerveja e muita raiva dele. Isso pra mim foi a prova irrefutável de que ainda existe um pouco de Raphael em mim. Existe um pedaço moribundo dentro de mim que ainda quer que ele me chame pra dançar, que espera que ele insista em uma causa perdida, que dorme com saudades do braço dele em cima de mim. Mas essa parte está pequena de mais. Meu corpo está vencendo a doença, por mais que eu insista em ficar doente. Por mais que eu ande na chuva olhando pra trás... minha outra parte sabe que ele não vai mudar, porque nenhum homem é tão autruista e nenhuma mulher tão especial assim.

Eu não quero esse nada me preenchendo em volta do câncer. Eu não quero ter tempo de reparar a felicidade dos outros. Eu preciso fugir daqui. Preciso de um tempo dentro de mim. Ser meu próprio espaço. Não quero dividir o ar que respiro com mais ninguém. Não quero ser tocada, nem ouvida, nem lembrada por aquilo que, em pouco tempo, não mais me pertencerá.

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