domingo, novembro 28, 2010

Evil

Pensei que seria oportuno aproveitar o final de semana longe dele. Arrumar o cabelo, pintar as unhas de prata (que ninguém nunca pinta), conhecer meninos, dançar, tirar aquelas ego-shots alinhadas à direita e ficar bêbada ao lado da “amiga”, rindo a toa, falando de sexo, festas e antidepressivos. Ser futilmente feliz, sem culpa, sem worries about fucking money. These alien pleasures.

Sexta-feira. Noite de open bar. E eu pobre! Trinta ou não trinta reais? Deixei recados no Facebook que ninguém respondeu. Ela se esquivava no MSN até que parei de insistir. Sabia que ela não queria sair. Dei todos os motivos para ela não querer sair, e forcei um descaso quando falou do amigo biba e do Beco. “Broxei” – disse enfim, pra não deixar claro que fazia questão dela, de rever aquela noite que eu faltei – ele disse que foi tão damn awesome, e eu faltei.
Dormi cedo.
Sábado acordei pela metade. Estranha, perdida em algum canto dentro da cabeça. A discussão durante o almoço me enojou. Comi sem vontade, e a falsa naturalidade que se instaurou após me deixou pior ainda. Imaturidade emocional entre adultos me da ânsia de vômito.
No quarto resolvi jogar SMW, e me senti a pessoa mais foda do mundo jogando SMW, com dois torcedores loucos atrás de mim. Crianças sem critérios, ou ingênuas demais. Tive nove anos de novo. Diferente do Carlinhos que não deu bola porque prefere GTA e jogos 3D com armas e sangue.
À tarde, tentei falar com ela de novo.
Mas ele entra antes, e eu sorrio o tempo todo. “Nos perdemos no caminho e Buenos Aires é linda. Tem uma escocesa querendo usar o PC. “
Nos despedimos.
Logo ela da as caras e diz que no final acabou saindo...
Mas vai querer sair hoje, né? Eu penso contrariada.
“Quero sair hoje. Que é que tem de bom?”
“Verde.”
Pareceu mais “empolgada” do que ontem, se é que posso chamar disso. Mas estava com dor de cabeça, e assistia muita TV entre uma frase e outra.
“Vai ir pro verde?”
“Acho que siiiim.”
“Acho?”
“Tu vai ir?”
“Vou.”
“Qualquer coisa te mando uma mensagem.”
“Te entope de aspirina! Faz isso pela Martini!”
“Já fiz!”
Ok. Daria tudo certo. Muita calma! Seria ótimo. Ela não falou mais nada – devia estar se arrumando. Também fui. Menti que minha “companheira” não poderia ir, pois estava sem dinheiro. Ri de mim, que não tenho porra de companhia alguma para ostentar, até mesmo a ausência. Não, eu não estava desesperada. Seria ótimo mesmo! Porque eu sou divertidíssima e meu cabelo estava um charme e sabia me maquiar muito bem! “Um dia te ensino”. Ah, como seria!
Consegui free com o Gael Garcia. Ele é lindinho e ordinário como um par de All Star velho. Mas talvez eu pudesse brincar um pouco com ele, e a gente riria de tudo isso depois.
Terminei de me arrumar. Meti as chaves e dinheiro extra na carteira pra não fazer feio.
Aproveitei a carona e cheguei cedo de mais.
Quinze pras dez. Que diabos eu iria fazer? Não, não podia chegar tão cedo, não é cool. Ela deve sair tarde, sem horários a cumprir, nem pessoas em quem depender. Desci na estação Mercado e peguei um trem de volta até a estação Farrapos. Corri para o banheiro para respirar melhor, sem que ninguém me visse.
Taquicardia.
Caminhei até a parada de ônibus. A rua estava encharcada de um suor frio que se juntava com o vento, e grudava na roupa. Senti um medo entalado na garganta que só consegui engolir depois que uma família parou do meu lado, quase junto com a lotação. No caminho eu acompanhei as janelas do quarto lá em cima, mas dessa vez estavam fechadas. Desci onde sempre descíamos, subi pela rua onde sempre subíamos, até o Bambus. Sempre tem alguém conhecido por lá. E se tivesse sorte, alguém interessante poderia querer falar comigo – tão bonita e radiante. Mas o Bambus esta vazio. Comprei um Laka e uma cerveja. Me olhei no espelho e sentei com as pernas cruzadas. Sempre disse que beber sozinho era uma das coisas mais depres que existia. Mas não no meu caso, que estava apenas aquecendo para uma puta noite. Até lembrei de ter visto umas fotos na internet dessa última festa. Pareceu divertido. Era electrorock, mas ela disse que gostava. Então foda-se, seria divertido.
Resolvi que já era tarde o suficiente para perguntar por ela sem soar desesperador, e mandei uma única mensagem. Mantive o celular em mãos caso ela respondesse. Quem sabe já não estivesse a caminho, ou em um dos carros que passava? Melhor guardar o celular pra ela não ver que eu estava esperando resposta. Não. Gente descolada não liga muito pros outros. E ela era. Mas deixei o celular à vista caso ela resolvesse talvez.
Onze e quinze. Terminei um copo à força e levei o outro comigo, Independência acima. A mesma coisa de sempre – como ela disse aquela vez. Porque a mesma-coisa-de-sempre, sempre vinha em situações diferentes pra mim?
Dei um passinho maneiro e olhei as pessoas por cima, como se fosse o sun of a gun mais fodão das redondezas, enquanto esperava a porra do celular tocar. A postura foi encolhendo com os minutos, até que chegou a pessoa conhecida mais aleatória ever, e eu aji como se fosse quem eu mais precisasse naquele momento – alguém com quem eu pudesse interagir.
“Porão eu entro de graça até meia noite.”
“Hm, eu vou pro Verde.”
“Ta esperando alguém?”
“Não.”
“Vamo lá então Martini!”
“Não, valew. To afim de ir pro Verde.”
Foi a meia hora mais rápida da noite.
Até que resolvi seguir caminho pra Goethe, acompanhada dos dois que se despediriam de mim na altura do Porão.
“Te cuida.”
Caminhei devagar. Parei no mesmo posto de sempre e resolvi comprar uma garrafinha de vodka, já que ela disse que curtia tanto. Não teria dinheiro pra ceva, mas estaríamos bem. Só faltava ela chegar que estaríamos bem. Mas a porra do celular não tocava. E ela poderia ter dormido, ou desistido de mim.
Chegando lá, a entrada estava vazia. O ordinário, lá na frente. Enchi os pulmões de orgulho e mostrei meu melhor sorriso pra ele. Guardei minha mochila na chapelaria. Sentei no puff e ele me abraçou por trás, sem jeito de abraço algum. Bebemos e olhamos para o nada, falando nada. Resolvi levantar e ir até o banheiro, me olhar no espelho, mas eu estava linda! Voltei e o cara estava de pé, e eu envolvi o pescoço dele com as minhas mãos, sem pensar, mordi o lábio inferior. Beijei. Beijei ele esperando muito sentir algo familiar. Mas não senti nada que geralmente se sente num beijo. Os braços dele ficaram suspensos e não tinha desejo, nem tesão, nem vontade, nem pena. Afastei-me com ele olhando pro lado, uma cara sem reação. Devia ter sido o apertão na bunda dele. Será que ele era gay? Será que aquilo não era o de se esperar de uma garota? Mas eu não liguei. Corri pro banheiro e me tranquei numa cabine. A última cabine, com a luz queimada. Procurei o celular. Nada.
Respirei, respirei forte, de olhos bem fechados, pra ouvir o ar passar por mim. Não queria mais o mundo, nem festa vazia com gente que não dançava, nem beijo sem gosto. Mas era recém meia-noite. Que é que eu ia fazer?
Escorei a testa nas mãos e dormi lá mesmo. Uma hora. A faxineira bateu na porta e perguntou se estava tudo bem. Uma e meia.
“Está tudo bem.”
Ergui a cabeça e pulei pra fora da cabine, decidida a ir embora. As garotas me olhavam por trás do espelho. A festa continuava a mesma merda vazia, não de gente, mas de qualquer propósito ou emoção. Peguei minhas coisas e fui direto pro Subway, pra matar tempo. Eu era a única cliente. A ansiedade me fez abocanhar o sanduíche em menos de 5 minutos. Fiquei sentada encarando os guardanapos amassados. Peguei o celular do bolso.
Nada.
Saí de lá sem saber ao certo pra onde ir. Quis passar na frente do Porão, esperando que ela estivesse lá fora fumando aqueles cigarros de filtro rosa, só pra botar nela minha melhor cara de desprezo, mas eu estava triste de mais pra isso. Torci para que não estivesse.
As pessoas me olhavam, e um ou outro vinham me encher o saco no meio da rua. Tentei sentir medo, auto-preservação. Nada.
Tentei o Bambus mais uma vez, mas de longe vi conhecidos. Desci a rua e larguei pela Cristovão Colombo. Sozinha. Sem carro, sem barulho, sem bicho, nem mendigo deitado nas calçadas. Eu estava sumindo dentro de mim. Até que o telefone tocou. Era ela, perguntando sobre a festa, e que estava mal, de um jeito despreocupado. “Vamos tomar café?”
Comecei a tremer. Respondi.
Ela responde. Ninguém se preocupa realmente com aquelas palavras – pensei.
Respondi uma última vez, depois não houveram mais respostas de ambos os lados. Quinze pras quatro.
Sem avisar, o soluço começou a vir involuntário. Forcei o choro pra dentro, mas não pude conter o grosso da decepção.
Não se pode esperar de alguém, mais do que alguém espera de você. É regra!
Fui pegar a garrafinha de vodka e lembrei que esqueci ela no banheiro do Subway, quando caiu da bolsa. Chorei mais um pouco até sentar em qualquer lugar, lá pela Felix da Cunha. Queria ele do meu lado.
Esperei os olhos desincharem e o nariz voltar à cor normal. Peguei um café no posto da Visconde e segui pela Farrapos. Sentei em frente à porta dele. Olhei inutilmente pra cima, cuidando pra não pegar no sono.
Enfim a calma da conformação.
Seis e dois. Subi no ônibus.
Sobrevivi, sem vontade de reaver o que perdi em mim nessa noite.

5 comentários:

Anônimo disse...

it sucks to be alone. but, u chose it. you live and learn, with time, people and things.

Martini disse...

a certo, me ajudou horrores saber de tudo isso!

Anônimo disse...

eu sinto por mim tudo que tu escreve. pensei que tinhas abandonado este blog aqui. faz bem em continuar.

abraço

Anônimo disse...

quem é essa bruxa má que fez isso contigo? fiquei com raiva dela.

Martini disse...

hahaha

feliz