quinta-feira, junho 02, 2011

Conjure me as a child

Sonhei que estávamos juntas, jogadas sobre o mesmo parquet escuro riscado. Eu sentada sobre as pernas enquanto ela jazia ao meu lado, envolta por toda alvura que minha imaginação lhe proporcionava, já quase sem roupas ou pulso. E ao me aproximar por cima dela, seu corpo começou a dissolver, afundando como se feito de água, deslizando e sorrindo pra mim, doce, enquanto o chão delicadamente a engolia pro nada, até que percebi estar afundando junto, perdendo o equilíbrio e a respiração para o vazio além do limite - mas ela não pareceu se importar, até afundar por completo e a gravidade passar a inexistir e sermos apenas eu e ela num mar escuro, cortado por raios de luz exaustos que se dispersavam sobre o seu corpo. Quis ela mais que tudo no mundo, quis consumi-la fisicamente. E diferente dos outros sonhos, ela se entregava pra mim com uma fúria melancólica e culposa, como uma projeção do meu inconsciente perturbado, criando forma através de tudo aquilo que me enfraquece, torturando-me com a graça das graças, e aquela irritante pureza esperando ser corrompida. Desejei morrer sufocada lá mesmo, desejei não acordar mais.
Há anos é sempre ela, e mais ninguém.

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