quarta-feira, maio 02, 2012

Old fashioned dandies, with their cigarettes, cheap wine and outdated opinions about the world

Uma festa na casa de amigos terceirizados, onde ninguém conhece realmente todo mundo. Copos de plástico cheios de gelo e álcool e garrafas de vinho sem rótulo passam de mão em mão alternados entre latas da cerveja que decidimos trazer do posto de conveniência para honrar o protocolo. Mesmo assim prefiro não arriscar até o primeiro cigarro, ou talvez até minha triste condição feminina levar-me à boca um gole do vinho estupidamente doce, como alternativa para saciar vontades mais específicas. Sou obrigada a trazer de casa duas caixas de som pra quebrar a inércia das conversas retóricas e provocar os gênios alheios em prol da criatividade. Nada realmente fora do eixo até alguém atrás pedir um Rob Zoombie, e logo depois outro sugerir Portishead, Massive, Front 242, Einstürzende Neubauten, Mngmt, Air, Prodigy, e o cara que faz moda curtir Katatonia desde os 12 anos, e o outro amar Daftpunk e Pendulum e os caras lá da frente ouvirem Hellacopters no som do carro bebendo pitú com algum resto de guaraná sem gás; até não existir mais eixo e eu estar dançando de olhos fechados no meio da sala, com luzes apagadas, enquanto alguém que caí do meu lado puxa meu pé. Melissa encontra um pirulito que divide comigo, e ele - que eu tratava com a cordialidade de um amigo casual de poucas intimidades, passa a brilhar aos olhos falando de sexo ao mesmo tempo que explica as restrições que impunha sobre as aspirações de sua mente aberta por medo das consequências. Eu desenvolvo a conversa até chegar ao ponto de decifrar o seu comportamento e ter autonomia para interferir sobre a sua vida pessoal - porque é fácil e porque me é conveniente. "Cara, todo esse joguinho é uma tentativa de adaptar instintos de rivalidade referentes à procriação, dentro da moral do bom vizinho, do bom amigo, do bom marido; de usar sentimentalismo pra encobrir orgulho e fazer de conta que poste mijado e mulher marcada em roda de amigo não são a mesma coisa." Agora eu - que sou tão orgulhosa de mim que deixo de ser com os outros, apenas lamento ter que voltar pra esse mundinho distorcido, depois de entornar dois dedos de liberdade num copo de terça gelada. Essas coisas nunca mais descem a garganta.
Dentro de um carro desconhecido, resgato a velha sensação de pertencer, ao mesmo tempo que esfrego as mãos nostalgicamente no frio das 5 horas, e escrevo algumas linhas mentais para o meu próximo destino.
Onde houverem rachaduras nas paredes brancas, aí que eu me situarei.

Um comentário:

Renato Alt disse...

De uma intensidade que não me atrevo a comentar.
Prefiro, de alguma forma, ainda que à essa distância segura e covarde, participar.