quarta-feira, novembro 14, 2012

Por que o amor ideal é tão difícil?

Muitos de nós já devemos ter nos deparado pelo Facebook, se não compartilhado, posts do gênero  (idealizando como o amor "verdadeiro" deve ser). O que me espanta, é que este tipo de conclusão pretensiosa e conveniente está geralmente relacionada a pessoas que já passaram por diversos relacionamentos sérios anteriormente, e que muito provavelmente passarão por outros, sem jamais encontrarem quem lhes proporcione tal regozijo.
Eu, como pessoa igualmente suscetível à influência de sentimentos, posso analisar tal situação como consequência parcial desta era digital completamente atrolhada, onde a comunicação entre pessoas se tornou rápida, facilitando a construção de networks imensas que nos levam a um afastamento gradual uns dos outros e não o contrário. Isso se deve ao fato de optarmos geralmente em manter contato com um número cada vez maior de pessoas ao invés de nos limitarmos a um número x de amigos próximos. A internet possibilitou uma rotatividade muito grande em nossa vida social, desencadeando esta pandemia de relações superficiais, efêmeras e inconsequentes (não que em algum momento da história tenhamos sido santos), ao mesmo tempo que estamos nos tornando cada vez mais carentes e imediatistas.
E assim supondo, nada mais natural do que passarmos a fantasiar sobre sentimentos nobres, intensos e duradouros como compensação para a falta de intimidade e de vínculos afetivos que nossa natureza exige. As chances de nos tornarmos vulneráveis e fazermos escolhas precipitadas são enormes, pois acabamos projetando, ou até mesmo exigindo este perfil idealizado em quem nos desperta interesse, sem que nos preocupemos em conhecer efetivamente seu caráter e suas verdadeiras intenções, na ânsia de encontrar um parceiro estável.
Agora pergunto: o que esperar disso se não uma provável desilusão amorosa que mais tarde terá sua culpa remetida tão somente àquela pessoa a qual simplesmente não nos demos o trabalho de conhecer além dos aspectos positivos que nos eram convenientes para o nosso ego e carência de afeto? Nada, oras! Seria hipocrisia da nossa parte pensar que a pessoa nos deva mais, independente do quanto nos "doamos" ou fizemos para o dito relacionamento. No final das contas, foi tão somente para nós, e não para o outro.

No meu caso, jamais tive este imediatismo com romances ou sexo e, desde muito jovem, costumava dizer que apenas me preocuparia em namorar alguém quando estivesse certa de que a pessoa seria para vida. E até meus 20 e poucos anos, mantive o raciocínio inabalável e mesmo um certo asco a namoros, quando enfim conheci o cara com quem mantive um relacionamento casual por alguns meses até me apaixonar, e mais outro par de meses até decidir se era hora de eu tentar um "pra vida toda". Obviamente não o conhecia perfeitamente, mas estava disposta a chegar o mais fundo possível, e mantive em minha cabeça que, desde cedo, me livraria de quaisquer pecados cometidos pelas outras mulheres que impedissem a compreensão da psique do parceiro, como ciúmes, frescuras e qualquer sorte de cobranças irreais, como a da "assexualidade completa longe da minha presença". Estaria de acordo com sua natureza masculina e disposta a atender suas necessidades físicas, assim como eu as minhas, para que jamais deixasse algum traço de sua personalidade escapar por orgulho meu.
Fomos muito felizes enquanto juntos, mas com o passar do tempo, mais e mais defeitos apareciam, como a incapacidade de ser confidente e sincero, mesmo com toda a liberdade dentro da qual nosso relacionamento era regido; a dificuldade de administrar sua vida profissional e seu dinheiro, enquanto eu me esforçava para lhe proporcionar todo o conforto que eu pudesse lhe dispor com minha renda precária e meu tempo livre de universitária. Enfim, tentei de todas as formas manter o relacionamento de pé, ser justa, ser mais do que as mulheres de mentalidade machista eram, mais do que as intolerantes que não dão uma segunda, ou terceira, ou quarta, ou quinta chance. Passei por cima de meus amigos e de minha família para seguir adiante, cedi meu apartamento, desvendei verdades inconvenientes, até o ponto de eu o conhecer tão bem, que poderia afirmar que jamais haveria uma resposta a altura da minha e que sequer seria sua culpa (pois nossos ideais de vida, em certos pontos vitais, divergiam grosseiramente).
Isso sim foi frustrante, e exigiu mais do que minha sanidade permitia aguentar, acabou por atingir o orgulho, que durante tanto tempo supri para evitar que as discussões por causa de sua conduta fossem mais extensas. Por fim me vi forçada a fugir, pois tinha consciência da minha vulnerabilidade e de que muito provavelmente continuaria insistindo em prol do ideal que construí desde o despertar da minha sexualidade. A frustração tomou conta de mim de tal forma que minha vontade foi causar nele a mesma sensação de impotência que eu senti, afinal a raiva veio da simples incapacidade de eu aceitar que não cabia a mim, nem a ninguém muda-lo.
E aqui, senhoras e senhores, encontra-se a faca de dois gumes. De nada adianta "amarmos" nos momentos difíceis se estes momentos nada mais são que consequência de incompatibilidades indeléveis do caráter de quem está conosco, assim como de nada adianta reclamar, se estamos passando por cima disso, em prol de nossa própria satisfação. Sutil, mas manter o equilíbrio nunca foi fácil, imagina entre duas pessoas?
Apesar do impacto que essa epifania me causou, hoje estou calma, e ao analisar minha primeira experiência de relacionamento, ainda bastante fresca na memória, sinto a mesma ansiedade e desejo que me preenchiam antigamente. Lamento que não tenha sido possível levar pra vida o meu primeiro namoro e continuar compartilhando de todas as coisas que aprendendo com ele, mas lamento mais ainda ser punida pelo orgulho do ex parceiro, por minha decisão de "exílio" temporário, depois de tudo que passei com ele. Afinal, apesar da frustração, eu jamais abandonei o meu ideal.
Hoje em dia, ironicamente, criei vínculos muito fortes com um francês, graças a esta bendita ferramenta que separa tanta gente, ao mesmo tempo que abrange a possibilidade de escolhas. E em momento algum o vi como uma segunda oportunidade ou um tapa buracos, se não uma pessoa a mais na minha vida, em paralelo a tantos outros relacionamentos que, mesmo unilateralmente, mantenho vivos dentro de mim como parte ativa da minha própria personalidade.
Agora se isso é amor ou não segundo o Bial, eu não sei, pelo menos estou feliz por ter me livrado de quaisquer expectativas.

E felicidade, no final das contas, tem que resistir à realidade.

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