sábado, setembro 07, 2013

Good bye is a good start.



Fúria antecipava a inevitável queda. Medo de admitir a própria insignificância. Ansiedade. Taquicardia. Falta de ar. FUGA! Pulsando na ponta dos dedos estava a impotência. Tudo me acompanhava em uma constante nuvem de fumaça, consumindo-me densamente. Uma ameaça: proclamando a decadência da carne. A mesma luz azul invadia minhas lembranças involuntariamente. Eu era um ralo entupido jorrando esgoto pra fora de mim. No chão do banheiro eu destilava minhas fraquezas em busca de razão. Recompensa, sexo, estímulo, sobrevivência... carne negando a soberania do idealismo romântico de toda a humanidade. A velha armadilha me abocanhou da mesma forma. Joguei a lâmina no lixo e tentei me erguer pra tomar um banho.
Naquela noite eu descobri que tinha poder sobre minha própria vida. Meu coração ficou vazio... minhas preocupações ficaram vazias. Eu não devia nada a ninguém.

Não posso dizer  que nessa noite a vida virou do avesso, mas foi definitiva.


Fim do capítulo.
Novo capítulo.

During a damn long time, permaneci presa ao passado (clássico!), procurando alimentar meu vício por melancolia e intensidade (o poder da subjetividade). Experiências humanamente erradas com potencial para poesia... Eu me confortava com a ideia de que estava vivendo tudo muito forte, sem muito controle, sem nenhuma certeza. Eu me confortava pois enquanto evitasse convenções sociais, rotina, planos de carreira respeitável e qualquer coisa que me levasse para a estabilidade subordinada, eu estaria vivendo mais (a velha busca pelo ideal fight club de ser *vômito*). Experiencias tornaram-se desde cedo o maior tesouro a ser conquistado, e perder o controle era uma sensação bem vinda (enquanto houvesse alguém no mesmo barco pra me amparar, é claro). E felizmente houve este alguém capaz de proporcionar uma carga massiva de tudo aquilo que eu procurava. E foi maravilhoso, foi tudo que eu atestei, durante muitos anos, neste mesmo blog. Mas com o tempo já não havia mais espaço para novos questionamentos, novas sensações. Tudo parecia ter sido feito, insistido, vivido e revivido. The drug effect had worn off, and the source seemed empty as well. And I was doomed for not wanting it.

Com a distância, aprendi o que era sentir abstinência. De volta ao amparo da família, eu tive tempo suficiente para me aborrecer e passar a olhar pra dentro, a reconhecer aquilo que regia meus sentimentos e minhas ações durante tanto tempo. O horror! Insegurança coberta por uma crosta de narcisismo. Falsa indulgência em busca de aprovação. Imposição, necessidade de aprovação. "A mulher ideal que qualquer homem gostaria de ter."
"Ter."
Sexista e manipuladora. Cega. Taxada, rebaixada, enganada, humilhada, tragada pela incapacidade de conceber uma realidade em que eu me encontrava no nível de mulher objeto, admirada superficialmente por algumas mulheres, detestada por outras (mostly feminists haha), quista pelos homens por ser convenientemente orgulhosa e ingenua para manter-se submissa, isolada e disposta a concorrer com outras mulheres, mantendo-se magra, bela e completamente tolerante a mentalidade machista.

O caos.

Eu era aquilo. Eu fui obrigada a engolir aquilo... muitos "aquilos" pejorativos. A "fodona" da Martini não passava da pobre coitada mulher de um cara que na real, ninguém dava muita bola. Mas eu achava que davam, e o pior é que eu dava importância pra isso! Dois imbecis alimentando as fantasias um do outro! Um cara mais tarde tratado indiferentemente como um "pau quentinho pra foder quando tava afim", "um tosco", "o que foi estiloso, mas que ta o ó", "alguém por quem nem vale se estressar", "o que nunca mudou nem vai mudar", por gente que ele me fez pensar serem adoradoras de sua pessoa, que varavam a noite conversando com o dito cujo. NINGUÉM tinha uma opinião mais profunda sobre ele. Talvez nem por mim. Não os culparia. Mas não sabia mais o que sentir. Estava desamparada, sem saber o que fazer com tantos sentimentos que ecoavam em mim por alguém aparentemente visto como um pires social. Precisava acordar. Abstinência! Raiva! Fúria! Eu não estava no centro do mundo... nem da porra da minha própria vida nem da de ninguém.

Caí no limbo da minha consciência dormente e, dia após dia, lutei para me manter viva. Achei que seria simples como contradizer aqueles que não concordassem com meu estilo de vida - como boa rebeldezinha, até notar que era eu quem tinha medo de mudar. É sempre mais comodo bater de frente sem muita responsabilidade e manter-se estagnado em uma ideia de mundo concebida tão somente por nossas próprias experiências.

Cheguei ao ponto em que meus "conhecimentos" já não eram mais suficientes para me amparar... O limite... obrigando-me a admitir minhas limitações, minha insignificância. Admitir que um dia eu vou cair, que minha carne vai envelhecer, que minha beleza física é apenas uma conveniência social para encurtar o caminho entre uma pessoa e eu - ostentando um biótipo facilmente interpretado como "belo"... óbvio de mais, fácil de mais... uma tática repugnantemente medíocre quando se está ciente das consequências de alimentar "valores" tão efêmeros quanto os da aparência fresca da juventude. Aprender a me sentir bela sem pudor, sem neuroses, sem culpa, sem padrões, sem segundas intenções. O limite me ensinou que eu tenho controle sobre minha própria vida. Que eu posso ser livre e que eu não devo nada pra ninguém. Me ensinou à força que eu tenho muito que aprender com as outras pessoas, e que todas elas são belas, maravilhosas... estupidamente merecedoras de minha atenção e interesse (uihmm).

A eminência de uma lâmina contra meu pescoço ironicamente trouxe a tona a consciência de que eu ainda tinha controle sobre minhas escolhas, e que eu poderia escolher se tudo que eu já tinha vivido era o suficiente, ou se eu gostaria de viver mais, muito mais... sem as velhas concepções sobre como relacionamentos devem ser ou como uma "mulher ideal" deve se portar, sem medo, sem hipocrisia... viver para expandir minha consciência, minha capacidade de auto análise e compreensão do comportamento humano em todo seu espectro de possibilidades.

Um possível fim, tão pequeno, tão insignificante, de baixo da mesma luz azul que iluminava o banheiro daquele apartamento, me fez querer mais do que eu vivi, me fez querer abandonar toda e qualquer possibilidade de interferência significativa que o passado poderia ter na minha vida. Por isso resolvi dar um fim a este blog... e parar de retornar a um passado que já não compete mais com minhas expectativas.

Eu não sou a Pâmela de Poa City Blues. Mas pelo que tentei ser por pura imaturidade e insegurança, peço mil desculpas. Pelo que sou, peço um pouco mais de paciência.

Adieu all of you, swet ghosts of the past. You're somehow imortalized by my words, and will remain loved as long as I live. (No "bye bye tristeza" for me)

5 comentários:

Anônimo disse...

bem bonito.

Martini disse...

:,)

there was a bit of you there, you know.

Renato Alt disse...

Sinceridade estonteante em um texto que não dá margem a qualquer falatório mesquinho. É, realmente, pra fechar a conta. Muito bom.

Bruna disse...

De "um tosco" pra baixo né :p

Martini disse...

né =x