quinta-feira, março 27, 2014

No one's kind of woman


Do posto de gasolina, voltou pra casa com a quinta garrafa de cerveja na mão, uma carteira cafona de vogue no bolso e uma pedra na garganta, perguntando quando é que tinha se tornado tão sozinha. Quando tantas voltas pra casa foram feitas sem alguém pra dividir os goles entre conversas existencialistas, quantos filmes foram assistidos sem uma mão em sua perna, quantas carteiras de cigarro, quantas noites de festa, quantas bolhas nos pés os saltos lhe fizeram sem que uma pessoa notasse seu desconforto ou beijasse a dor embora no final da noite? E o choro engolido e todas as reações fisiológicas que estavam fora de seu alcance controlar? Odiava este sentimento de derrota em relação a tudo que aprendera a abominar, mas parecia que estava cedendo novamente às más influências e à insensatez do romantismo. Não havia graça no simplismo das emoções, mesmo sob tantas doenças emergentes que atingem a “alma”. Sentiu-se derrotada e obrigada a erguer uma bandeira de paz. “Ajuda... preciso de ajuda.”
Submersa no escuro de uma estrada fora de rota, protegida contra medos e desejos negligenciados. Aquela criatura embaçada com a cabeça arqueada para dentro do peito sou eu, ou enfim o que sobrou de mim em anos de vicissitudes e experiências impulsivas. Não foram as voltas nos brinquedos de parques itinerantes, rangentes e enferrujados, nem as doses extra de tekila e vodka... Foram os mergulhos insistentes na vida dos outros, em busca de algo que fizesse sentido. Os joelhos esfolados, o orçamento apertado, a dispensabilidade das justificativas. O prazer.
Queria rezar para que minha consciência vencesse a guerra e tragasse consigo tudo que me torna humana, inclusive a si mesma. Sinto que estou obliterando, sequer a lembrança dos dias mais bonitos e felizes da minha vida parecem me tocar muito hoje em dia. Mas não posso negar que sinto falta de sentir, não sei mais o que fazer enquanto me equilibro sobre esta fina linha paradoxal, enquanto todos que conheci estão se distanciando de mim, apaixonando-se, tendo filhos e vivendo relacionamentos fervorosos como se não soubessem ou não se importassem com o fato de que dois terços deles vão acabar nos próximos cinco anos (make it three).
Eu adoraria encontrar meu tipo de pessoa, mas estou sem palavras a serem oferecidas. Presa nesta realidade, meu ultimo desejo era que alguém fosse capaz de olhar pra dentro de mim e se interessasse pelo que vê. Sem expectativas, nem toda a banalidade do resto do mundo... apenas uma coisa nova que ninguém pudesse ou quisesse entender.

Um comentário:

Gaze disse...

Espero que não te incomode a maneira abstrata com qual vou escrevendo.

Esse teu blog é confortável, e reconfortante. A música, as palavras, as experiencias ditas e as confissões.

É bom vir pra cá em silencio, lerlerler e aproveitar a boa música. Isso, e nada mais.. nada mais?

Algo mais. a gente gosta de cutucar o que nos interessa, pra depois absorver uma parte pra, a gente tenta se aproximar.

Mas, acho que já conversamos sobre isso. Nós.. caralho,nunca servi pra falar em grupo. Eu, pelo menos eu, tinha medo, de parecer desinteressante,de parecer bobo, mas desde a primeira vez que vim aqui, em que apareci no teu tumblr (thanks to Itapa) e comecei a ver teus escritos, eu mudei, me sinto mais aberto. Não quero fazer um mega post, mas poderia ficar me estendendo, então vou ser mais direto. Você é incrivelmente interessante, e sabe disso, eu(acredito que bastante gente also)não consegue chegar em você por receio, não te conhecendo, de que não seja um assunto "bom" o suficiente. Você falou dos relacionamentos, estudou-os, e depois, quer algo novo, que ninguém entenda. Porque você não deixa de estudar o comportamento postumo de um novo conhecido, e vai só sentindo?