segunda-feira, abril 19, 2021

"Triste eu não faço nada, só dou pinote"


Disseram que eu tenho sorte, pois as dores da perda me foram limitadas aos desamores e a alguns animais de estimação. Mas acho bobagem pensar assim. Não acredito que só Cristo na cruz tenha o direito de sofrer. Perder bicho dói pra caralho quando ele é amado - mais que perder parente sazonal. Coração partido dói mais que braço quebrado, e dor de dente até que me lembra remorço. Questão é que, independente do motivo, ninguém ta pronto pra sentir dor, muito menos abraçar a bandida que esconde dentro de si um espelho de chão a teto, apontado direto pra nós... Ninguém quer ser responsável pela dor que sente afinal. E eu não fui diferente.

Foi num dia de fevereiro que ele me chamou de sopetão, enquanto eu terminava minha leitura na lage. “Loucura vai ser tu dirigir 2 mil km pra dar pão pros pato na lagoa aqui em Goiania. Porque não pede um delivery?” “Nuh, não to com fome”, “Pra mim ir até ai cabeção!” Não quis pensar muito. Ele comprou a passagem, eu fui. E esse ‘ir‘ virou marchinha, que logo virou um correr desenfreado campo afora, rodando a camisa no alto - É GOOOOL! Não haviam precedentes pro que eu tava vivendo. O caba era mais intenso que manguereada de bombeiro na cara. E aí eu queria me entregar, olhar pros olhos dele e dizer ‘Eu te amo desgraça’ depois de passar a noite tomando MD, dançando e falando merda; depois de um role de bike naquela tarde suada na cama; de um caldo duplo no meio do mar, ou toda vez que ele dizia “eu gosto de ti”. Mas não dava, porque como é que tu vai dizer isso pra alguém que tu mal conhece? “A gente mal se conhece” virou jargão entre nós dois quando haviam desavenças, mas de onde vinha tanto sentimento bom se a gente deveras “mal se conhecia”?

Não sei até onde foi projeção, mas sei que muito foi insegurança. O sentir de mais foi barrado pelos traumas do passado. “Olha lá Pâmela, tudo que é bom dura pouco! Tristeza não tem fim, felicidade sim”, né? Todo sentimento bom passou a ser examinado com ceticismo e as desavenças ou problemas eram amplificados pra que eu pudesse justificar minha insegurança. Barrei! Barrei tudo! Barrei ele com um chicote e o desgraçado ricocheteou pra cima de mim. No final quem ficou ouvindo Cartola no repeat foi eu.

Queria ter redescoberto esse espirito de aventura dele que eu perdi com os homens neuróticos que eu jurava serem “meu tipo”... me entregado sem medo, sem ver o tempo, aceitado o que eu tava sentindo e foda-se. Mas não deu. Não deu porque eu também não me expressei. Acusei ele de tudo que eu fazia, inclusive da relutância em reconhecer os meus defeitos... Inclusive A PORRA DO VITIMISMO, SENHOOOOR! Queria que ele fosse responsável por tudo, não só a parte dele. E agora a culpa segura este espelho imenso em minha frente, e tudo que eu posso fazer é aceitar o que vejo e botá-lo de lado pra poder finalmente ver ele como ele realmente é, não como eu acho que ele deveria ser, muito menos como seria mais conveniente pra mim. Meu problema nunca foi louça suja ou delay online, per se. Nunca foi sobre aceitar ‘ele‘ tanto quanto foi ‘me‘ aceitar. Só que porra véi, em tão pouco tempo???

Tá, tá bom. Foda-se. Emoção é tipo uma roleta russa quando se recusa olhar pra dentro de si. Mas foda-se, mil vezes, de joelhos nas areias do Guarujá! Dessa vez eu não vou deixar um amor escapar por erro meu. Foda-se se a gente não vai mais ser o que foi antes. Foda-se se ele achou o amor da vida dele e já planejou casa na praia, casamento com tema Crepúsculo e fantasia de carnaval conjunta pros próximos dez anos - dois dias depois que eu fui embora da casa dele. Dessa vez vou assumir meus erros, sem apontar dedos, meter um durepoxi no coração e já eras. 

Ninguém deve nada pra mim, e como eu disse pra ele outra vez: “Não temos controle sobre o que nasce fora de nós”. Então engole o choro bravinha e te recompõe. Chama ele e olha nos olhos e diz que tu foi varza e diz que foi mal... Afe não. “Mal” de cú é rola!!! Diz pra ele que tu sente MUITO! Sente tudo inclusive! Transbordando por todos os poros feito pavor de palco. Diz pra ele que tu foi orgulhosa e que ta disposta a ser uma pessoa melhor, mais paciente e definitivamente, disposta a conhecer, aceitar e abraçar ele por quem ele realmente é. O resto a gente corre atrás.

Diz pra ele que tu sente um carinho por ele do tamanho de dois Guizmos, e que tu quer mais do que qualquer outra coisa, neste momento da vida, ficar de boa com ele. Independente de quem ele ame romanticamente. Diz pra ele que tu quer ele na tua vida como amigo, como irmão, que tu nunca sentiu isso desse jeito por ninguém, mesmo com tanta ideia errada.

É ISSO. Eu to aberta pra vida. To pronta pra agarrar a danada pelas crina e cavalgar a bicha do Leme ao Pontal. Sem medo no coração. O que for será. Quero por o que ele me ensinou em prática. Quero crescer na vida um pouco mais parecida com ele, e muito mais segura de mim.

Cê tem em mim uma amiga que te admira de alma. E admiração é a prova de fogo, viu.

Obrigada Roni.

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