30 anos na cara e uma cerveja na mão.
São Paulo parece que me engole aos poucos, inteira. Uma jiboia do tamanho de
uma cidade. E agora, mais que nunca, eu preciso ser humano, mas humano filho da
puta. Munido até os dentes. Malandro e com os colhões na mão. Cansei de prestar
atenção no que eu não posso (ainda). Cansei de mendigar o que deveria ser meu
por direito. 30 anos, e nem uma página preenchida na minha carteira de
trabalho. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é o que aprendi
que eu tenho. Desde pirralha. Minha mente é uma maria-fumaça queimando estímulo
e informação, rápido de mais pra fazer alguma coisa com elas antes de virarem
pó. É a cólica, as contas, o namorado, o aluguel, a pressão, dor de cabeça,
cigarro, dente quebrado, olheiras, grana, é-que-o-niilismo-sabe, cabeça a mil.
Tudo a mil. A ex a mil, a economia no buraco, mas os ricos à mil. O mercado da
arte tá favorável. Onde tem grana, tá favorável. Tudo. Mas eu tô com medo. Medo
do não. É o perfeccionismo. A tinta que eu uso é ruim. A vida. A sina caralho! Meu
cú. Arregaçado pela jiboia. Foda-se é o que eu digo.
Cansei, tá ligado? C-a-n-s-e-i.
Amanhã é sempre a mesma coisa. E hoje é sempre a mesma
história. Tô afim de me dar bem, é o que eu digo. Tô afim de ter grana pra
gastar. De dar um lanche pro tio do papelão sem pensar na minha barriga semana
que vêm. De comprar um tênis novo porque o meu entra água quando chove. De
pagar fisio pro meu gato. De encher a cara com Stella Artrois à 15 pila. De ver
o mundo por cima, mas não deixar o nariz por lá. Eu quero me dar bem sem que o
mundo saiba se eu sou loira ou morena. Meu trabalho com poder de venda sem
ninguém ao certo saber quem eu sou no meio do vernissage.
Eu vou ser foda. Eu vou ser foda. Eu vou ser a pica dessa jiboia. Minha cidade natal vai ser lembrada porque eu sou de lá. Minha mãe vai
dizer que tá orgulhosa e vai ser eu quem vai pagar a próxima viagem. Todo mundo
pra praia, porque Europa já tá saturada. Europa é óbvia de mais pra gente como
eu. Praia dentro da tenda. Praia com churrasquinho na grelha de latão. Trilha
longa e bronzeado de óculos e camiseta em todo mundo. Eu vou ser foda. E vou
dar pra minha vó aquelas coisas que ela já nem pensa mais em correr atrás. Eu
vou dar tudo que eu puder e deixar um pouco pra mim. O suficiente pra ser
sozinha. Sozinha quando eu quero, por quanto tempo eu quiser.
MARK MY WORDS: EU VOU SER FODA!
NÃO... EU VOU MOSTRAR AO MUNDO COMO EU SOU FODA!
Um comentário:
Go n' get it, your little crazy
Postar um comentário